PORTUGAL - Teatro romano será devolvido ao povo em 2007 (P)
Denisa Sousa, Lisa Soares
or
sorte ou por destino, sobreviveu à pressão urbanística da década de 70,
voracidade que chegou a amputá-lo do canto Noroeste, mas deixou ainda
68 metros de diâmetro e de história para descobrir. O teatro romano de
Braga, o segundo do País, despediu-se ontem dos voluntários que
participaram nos trabalhos durante o Verão. Esperam-no outras estações,
trabalhadas pelos seis arqueólogos de todo o ano até ao culminar de um
desafio recolocar o monumento no circuito cultural.
Ao sol, os corpos suados, mexem e remexem a terra. É um grande
edifício, de três partes, estendido por dois mil metros quadrados, ao
lado das Termas da Cividade. Está a ser, gradualmente, exposto. Durante
a época estival, chegou a ser trabalhado por um grupo de 30 pessoas,
liderado pela investigadora da Unidade de Arqueologia (UA) da
Universidade do Minho (UM), Manuela Martins, e Jorge Ribeiro, o número
dois.
Ali, os voluntários, futuros arqueólogos, aprendem. Os contratados
emprestam experiências. Os licenciados de reconversão (que frequentaram
dois anos para mudar de História para Arqueologia) sonham um futuro
melhor, à medida que rebuscam o passado.
Henriqueta terminou o curso de arqueologia ontem. Passou de aluna a
arqueóloga. Desde Julho que escava o teatro, complementando a formação
prática. "Não tive férias mas não me importei", sorri. Findo o curso na
UM, vai escavar para Mirandela, a sua terra-natal.
"Mas para o ano volto", refere, sublinhando o desafio de trabalhar num
achado daquela monta. Como o Pedro Silva, de 20 anos, aluno do segundo
ano da Universidade do Porto, que troca as horas de lazer pela magia do
passado. "É cansativo, mas muito aliciante. Aprende-se muito. Aqui,
ensinaram-me desenho de campo e a mexer com o aparelho topográfico",
exemplifica.
O teatro vai-se mostrando, as estruturas, outrora saqueadas, ainda
estão, de acordo com Manuela Martins em muito bom estado. Foi
construído no início do século II, preenchendo as necessidades
culturais de um povo adepto de espectáculos de teatro e música.
A partir do século IV, terá começado a ser desmontado e reaproveitado
para outros fins. Vários séculos depois, a história repete-se. A partir
de 2007, data em que termina um projecto de quatro anos, com fundos do
Instituto Português de Arqueologia, a responsabilidade passará para as
mãos do município. "Nessa altura, termina o ciclo da arqueologia. Os
resultados serão publicados para a comunidade científica. Depois, a
Câmara deverá financiar o projecto, para que o espaço possa ser
musealizado e reaproveitado, daqui a alguns anos", explica.
Como único senão, fica a crítica da responsável relativa aos estágios
profissionais. Três dos contratados juntaram-se dessa forma à equipa da
UA, através do Centro de Emprego. Desde que, no ano passado, se agrupou
tudo na categoria "estágios da Administração Pública", ainda reina
muita confusão e os estágios para este ano não foram aceites no Centro
de Emprego. Uma mudança que faz com que "os estagiários passem a ser
orientados, nas autarquias, por pessoas que nada sabem de arqueologia",
critica.
http://jn.sapo.pt/2006/09/01/minho/teatro_romano_sera_devolvido_povo_20.html